Os corretores continuam a ser essenciais

Os corretores de seguros encontrarão o seu lugar em um mercado segurador marcado por mudanças pelos impactos da pandemia? Em artigo o diretor-executivo do Sindicato afirma que os corretores continuarão a ser essenciais.

Por Fernando Simões, diretor-executivo do Sindseg SP

A queda da Medida Provisória 905/2019 retirou do horizonte as ameaças que pairavam sobre o futuro dos corretores de seguros. Mais conhecida como MP do Contrato Verde Amarelo, a MP 905/2019 tinha como principal objetivo promover uma minirreforma trabalhista, mas trazia, entre as medidas alinhavadas em seu texto, a desregulamentação de várias atividades profissionais, entre as quais se incluía a corretagem de seguros. A MP 905/2019 foi aprovada na Câmara dos Deputados, mas não houve acordo para a sua votação no Senado.

Com esse desfecho, a histórica parceria entre as seguradoras e os corretores ganha novo fôlego para enfrentar os impactantes desafios impostos ao setor segurador. A indústria seguradora, assim como ocorre com diferentes segmentos da economia, enfrenta os efeitos de uma revolução disruptiva provocada por mudanças substanciais nos padrões de consumo da sociedade, ampliadas e aceleradas pelo desenvolvimento tecnológico. Associado às transformações impostas por esse fenômeno, a pandemia do novo coronavírus agregou, nas últimas semanas, uma carga substancial de novos desafios, contribuindo para promover mudanças drásticas na demanda pelos produtos da indústria seguradora.

Considerado um setor tradicionalista, com um histórico que somente no Brasil, considerado um “país jovem”, compreende mais de 200 anos, a indústria dos seguros vem se deparando com novas gerações de consumidores acostumados a obter soluções rápidas para suas necessidades, ao alcance de um toque nas telas dos celulares.

Outra mudança de paradigma importante é o abandono de antigos sonhos de consumo, como a posse de um automóvel, substituídos por soluções compartilhadas e de uso esporádico. Outro exemplo é a nova configuração do trabalho, com o home office alterando a antiga relação dos trabalhadores com o seu local de trabalho. Todas essas transformações proporcionam impactos no setor segurador, bastante sensível às mudanças nos padrões de consumo e de comportamento da sociedade.

As seguradoras têm reagido a essas mudanças impondo um acelerado processo de automação e digitalização de seus canais de distribuição e serviços. Mas essa evolução tecnológica está longe de representar uma ameaça de extinção à categoria dos corretores de seguros – embora exija deles um esforço de adaptação considerável. Com uma rede constituída por quase 100 mil corretores, considerando pessoas físicas e jurídicas, esse segmento oferece uma grande capilaridade para a distribuição dos produtos das seguradoras, levando-os aos mais longínquos rincões do país.
A amplitude dessa rede formada por profissionais habilitados constitui um eficiente e competitivo canal de distribuição para a indústria seguradora. Essa característica é considerada um importante requisito para uma indústria que sonha em ampliar a sua penetração na economia brasileira, muito aquém do que se observa em mercados mais desenvolvidos, como o dos Estados Unidos e os de alguns países europeus.

Não se deve perder de vista também que há segmentos em que, em contraponto à impessoalidade e rapidez das vendas de seguros por meios digitais, o atendimento personalizado aos clientes é um importantíssimo diferencial ostentados pelos corretores. É o caso, por exemplo, de produtos oferecidos às indústrias, onde os laços de um relacionamento profissional construído ao longo de anos atuam de forma mais forte.

De uma forma geral, a expectativa é a de que em vários segmentos ocorra uma combinação entre a velocidade e a comodidade oferecidas pela automação e digitalização e a capacidade do corretor de atuar como um consultor, contribuindo para que a venda seja bem-sucedida e para que o consumidor fique satisfeito com a aquisição. Para que isso ocorra, é preciso que os profissionais que atuam no segmento de corretagem se adaptem aos novos tempos, aderindo às novas tecnologias como instrumentos de trabalho.

Essa capacidade de adaptação deverá ser testada também a partir dos impactos econômicos e sociais avassaladores proporcionados pelo avanço do novo coronavírus no Brasil. O isolamento social, determinado como a principal estratégia no enfrentamento ao vírus, causou profundas mudanças no dia a dia das pessoas e das empresas, provocando súbitas e acentuadas alterações em suas demandas e necessidades.

A guinada proporcionada pela pandemia deverá fazer com que os corretores se ajustem a uma nova configuração no grau de importância dos produtos da cadeia dos seguros. A expectativa é a de que o seguro automóvel, por exemplo, que concentra grande parte da atividade dos corretores, sofra uma redução da demanda, o que deverá exigir dos profissionais uma maior dedicação a outros produtos que ganharam força em meio à pandemia – como os relacionados à vida, saúde e riscos cibernéticos.

Autor: Sindseg SP