Empresas de gerenciamento de risco adotam medidas para tentar baixar o valor do seguro de produtos transportados.
O aumento dos casos de roubo e furto de veículos está provocando uma situação inusitada para os transportadores. Seguradoras chegam a exigir caminhões blindados para poder segurar as mercadorias mais caras que serão transportadas por regiões onde os ataques são mais frequentes no Sudeste, em especial, São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). O número de ocorrências de roubo e furto de cargas no país cresceu 80% nos últimos cinco anos, conforme o balanço mais recente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística). RJ e SP concentraram 85% dos ataques em 2017, último dado disponível.
Ernesto Lorenzoni, superintendente comercial da GPS Logística, especializada em seguro de cargas, explica como é definido o preço para segurar mercadorias transportadas.
— As empresas que têm o melhor perfil e o melhor preço do que as empresas que têm o pior perfil. O que é o perfil? É o quociente de sinistralidade dessas empresas. Hoje, têm corretores despreparados que oferecem “milagres” e esses “milagres” refletem nessas empresas mais tarde, com índices mais agravados de taxação de risco.
O aumento de roubos de cargas no Sudeste vem aumentando tanto, que chegou ao limite no que diz respeito ao seguro das mercadorias transportadas.
— Para terem uma ideia, no Rio de Janeiro, tem muitas seguradoras que não querem fazer esse seguro. Ou impõe condições de gerenciamento de risco que inviabilizam o transporte.
Segundo Lorenzoni, proporcionalmente ao que é transportado, o seguro de carga é acessível. Uma das estratégias é o gerenciamento de risco para conseguir baratear esse custo.
— Nós identificamos no cliente os problemas que ele tem nas suas rotas, nas mercadorias que ele transporta, horários. Vários quesitos são pontuados nessa avaliação para que a gente possa oferecer esse risco para as seguradoras aí sim poderem fazer o seguro dessa empresa.
Segundo ele, diferente do roubo e furto de veículos, em que o bem é recuperado em sua maioria, no caso das cargas, o segurado acaba sendo indenizado, porque não há recuperação. Lorenzoni destaca que algumas empresas tomam medidas drásticas para tentar evitar roubo de cargas.
— Bem atípico seria o caminhão blindado. Esse seria o mais impactante em custo para todas as partes. E ainda é uma coisa que não é 100% garantida. A gente consegue minimizar um pouco a ação dos bandidos nessa guerra diária que temos — declarou. Lorenzoni cita os problemas com cargas seguradas que ficaram retidas nas estradas durante a greve dos caminhoneiros.
— Muitas dessas cargas paradas nas estradas perdem a cobertura do seguro. Por exemplo, cargas como gêneros alimentícios, se não bem tratadas nessas paradas, podem ter problemas na cobertura de seguros — disse o superintendente. Leandro Longhi é especialista em segurança e diretor da Squadra Gestão de Riscos e reforça o que diz Lorenzoni.
– Muitas companhias de seguro estão saindo deste segmento e as que permanecem estão restringindo sua participação no risco e impondo condições para que as empresas possam contratar o seguro. Longhi lembra que muitas destas empresas não perceberam ainda que devem agir de forma preventiva, e para isso devem olhar para seus processos internos.
– Não existe uma quadrilha que fica na beira da estrada esperando algum caminhão passar para atacá-lo e ver o que tem dentro. Eles sabem qual o caminhão, por onde passa, onde para e o que carrega, e isso veio de dentro da empresa.
Ricardo Pansera é presidente do Sindicato dos Corretores do Rio Grande do Sul (Sincor—RS) e vice—presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor). Conta que as empresas de transportes estão no limite de prevenção, proteção e gerenciamento.
— Como o seguro de transporte é um ramo bastante nervoso, poucas seguradoras realmente têm interesse. Tem que ser seguradoras realmente especialistas. Na mesma forma, os corretores de seguros. Também tem que ser especialistas nessa área.
Pansera conta que as empresas contratantes dos seguros se valem de um cadastro rigoroso de motoristas, utilizam uma frota rastreada, câmeras nos veículos, escolta e viagem em comboios, mas mesmo assim os roubos ocorrem. O vice-presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul (SindsegRS), Rubens Oliboni, lembra que o risco das seguradoras vem aumentando e, consequentemente, isso é repassado na composição do preço do seguro de cargas.
— Barato ou caro é um conceito que depende muito do tipo do risco segurado. E no caso do seguro de carga, esse risco vem aumentando. Na média, guardam proporção em cima do deslocamento dos veículos. Ou seja, existem taxas variando de acordo com o trajeto. Oliboni também traz algumas exigências para o fechamento do negócio entre o embarcador ou o transportador e as seguradoras. Lembra que também depende da mercadoria transportada.
— As mercadorias de maior risco, como equipamentos eletroeletrônicos, defensivos agrícolas, as mercadorias de maior valor, elas normalmente requerem um tipo de segurança extra, como rastreamento, às vezes até equipe que acompanha com guarda armada. Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança da NTC & Logística, lembra que o seguro de carga hoje é fundamental diante da insegurança nas estradas e demais vias onde os caminhões circulam.
— Essa cadeia precisa se equilibrar. Mas isso quem paga lá na ponta é o consumidor final que, quando aquele produto chega no supermercado, por exemplo, ele tem um aumento por conta de toda essa cadeia de segurança, que inclui o seguro. João Carlos Trindade, consultor de segurança do Setcergs, admite ser importante o seguro de carga, apesar de considerá-lo elevado.
— Impacta no preço e, em última instância, quem paga é todo o consumidor. Eu penso que a sociedade inteira deveria fazer um esforço para que o transportador precisasse cada vez menos do seguro. E essa resposta quem tem que dar é o poder público em conjunto com a iniciativa privada.
Autor: Revista Cobertura