Atualmente o mercado busca se adaptar as necessidades das novas gerações. Para as organizações, a geração Y é ao mesmo tempo uma oportunidade de crescimento rápido como um grande desafio de gestão. Diante dessa tendência, muitas empresas acabam não dando a atenção necessária para aqueles profissionais mais sêniores e que estão vivendo o momento de saída da empresa por motivo de aposentadoria.
O tema previdência nunca esteve tão exposto, uma vez que estamos envelhecendo e a previdência pública já se deu conta que a longevidade está gerando um buraco negro nas contas do governo, tornando inviável a manutenção do modelo atual. Muita coisa deverá ser feita e estas mudanças com certeza afetarão a todos.
Se a previdência pública não se viabiliza no atual modelo, o mesmo vale para aqueles que fazem previdência privada, uma vez que os juros reais praticados pelo governo nos próximos anos serão, com certeza, muito menores ao praticado nos últimos trinta anos, gerando a necessidade de que o valor poupado seja incrementado, assim como o tempo de contribuição voluntária aumentado.
Não só aqueles que estão à beira da aposentadoria, mas também todos que pensam em envelhecer com dignidade, precisam de orientação sobre o que o futuro lhes reserva, para que cada um da sua forma, possa definir um plano de ação e assim não serem surpreendidos com despesas extras insustentáveis.
É neste momento que surgem problemas relacionados principalmente com o custo do plano de saúde, cujos valores estão muito acima do previsto, fazendo com que a decisão seja reduzir drasticamente a qualidade do plano ou até mesmo se tornar um usuário ativo do SUS.
Essas circunstâncias estão expostas claramente no panorama atual da saúde suplementar no Brasil. As estatísticas apontam que cerca de 23% de brasileiros – aproximadamente 47 milhões de pessoas – possuem plano de saúde, sendo que 70% está inserido nos planos corporativos, 15% nos planos das categorias de classe e 15% nos planos individuais e familiares.
Cidadãos sem orientação necessária, ou seja, sem preparo econômico, passam a integrar esse grupo de 77% dos brasileiros que se veem aparados apenas pelo sistema público de saúde.
Mesmo lidando com esses números, existem muitos que pensam que essas dificuldades sobrecaem apenas aos que ocupam cargos simples nas hierarquias corporativas. Aos executivos um alerta: as despesas são do tamanho da posição ocupada dentro da empresa. Quanto mais alto for o seu cargo, maior serão os impactos que o plano de saúde irá provocar em sua vida.
Um executivo que hoje possui um plano com cobertura em hospitais e laboratórios de referência e está com mais de 59 anos, na aposentadoria terá que desembolsar um valor médio mensal na ordem de cinco mil reais per capta, ou dez mil reais se tratando de um casal. Neste cenário, a análise é de quanto você precisa investir na previdência para poder arcar com cento e vinte mil reais por ano.
Esses valores altos podem pegar a maioria desprevenida e isso acontece pela falta de conhecimento relacionado aos custos. Quando se faz uso dos melhores planos de saúde dentro da empresa, no momento da aposentadoria fica extremamente oneroso acompanhar o mesmo padrão de plano.
Nesses casos o mais comum é o downgrade, onde a pessoa se aposenta, sai da empresa e acaba diminuindo o padrão do seu atendimento médico com a intenção de reduzir custos. Porém, mesmo com o retrocesso, os valores a serem pagos ainda continuam altos e acima das expectativas.
Orientação para previdência
Qual a solução para este problema? Como executivos de alto escalão podem manter um plano de saúde particular no mesmo padrão do corporativo? É arriscado se apoiar apenas na previdência social, tanto que seu modelo considerado defasado tem sido bastante analisado através de reformas. Uma das saídas para resolver esta conta difícil de fechar seria apostar em um plano de previdência privada já computando o custo do plano de saúde.
O inteligente também é não pensar em previdência apenas para as necessidades básicas, conforto e lazer como muitos fazem automaticamente, já que ninguém tem a pretensão de ficar doente. Precisamos ter conhecimento que 80% de tudo que foi destinado para o custeio do plano de saúde ao longo dos anos, será consumido após os sessenta anos de vida.
Ideal mesmo seria todas essas informações e orientações estarem inseridas no contexto corporativo e ser cultural. Mas infelizmente isso ainda não é tangível, porém é possível que as empresas assumam uma posição que implique orientar aqueles que estão se aposentando e ainda possuir um plano de ação que abranja toda a população organizacional. Existem consultorias no mercado de RH que estão aptas a dar este suporte.
Previdência privada e saúde precisam de total integração. As empresas precisam patrocinar discussões, fóruns de debates e palestras a respeito e assim evitar que seu grupo de talentos sejam surpreendidos no futuro, afinal começamos a envelhecer quando nascemos.
Entender o funcionamento desse quadro atual e as alternativas é determinante para que as coisas andem no eixo. A questão financeira é crucial na hora do planejamento da aposentadoria e por ser uma despesa de grande dimensão, é adequado começar a pensar e agir com relação a este tema o quanto antes.
Tive recentemente uma conversa, com ex-presidente de uma multinacional, que se encaixa neste artigo: “Ricardo, você sabe quem vai cuidar de você na sua velhice? Seu dinheiro!”. Após um sorriso e alguns momentos de reflexão, não resisti e coloquei: “você está certo em parte, porque precisa de alguém que cuide bem do dinheiro que vai cuidar de você”. Ele riu e finalizou: “tem razão, por isso dei muito amor aos meus filhos e os ensinei a cuidar bem do dinheiro que ganham, pois um dia, eles vão ter que cuidar do dinheiro que vai cuidar de mim”.
*Sobre o autor: Ricardo Lopes é Diretor da unidade de Consultoria e Gestão de Benefícios da ProPay S.A.
Autor: Por Ricardo Salvador Lopes